O outro lado da mesa: como você trata seus candidatos
RECURSOS HUMANOS | Estamos vivendo um dos piores momentos da história no que se refere ao emprego, economia e política. A taxa de desemprego no país vem aumentando sistematicamente e há poucas perspectivas de melhora a curto e médio prazo. O IBGE apontou que a taxa de desemprego no país subiu para 11,6% no trimestre encerrado em julho de 2016. São quase 12 milhões de desempregados.
Vejo estes indicadores no dia a dia. Leciono em uma faculdade em SP e me desloco de trem e metrô. No transporte há uma infinidade de pessoas vendendo quase tudo: alimentos diversos, água, pen-drive, capinha de documentos, fone de ouvido, cartão de memória, entre outros. Há alguns anos atrás era comum ver um ou outro vendedor vez em quando. Atualmente há ao menos dois ou três por vagão, quando não aparece uns quatro ou cinco ao mesmo tempo. Sem contar na porta das estações.
Na própria faculdade o índice de alunos desempregados aumentou e alguns tiveram de abandonar os estudos, pois não conseguiam arcar com as despesas.
Entre os cursos que leciono destaco o de Tecnólogo em Gestão de RH, onde sou professor na disciplina Técnicas e Práticas de Recrutamento e Seleção. Mais do que técnicas e práticas insisto na questão ética da profissão. Compartilho e abro espaço para trocarmos informações sobre como tratar os candidatos em um processo seletivo.
Infelizmente ainda temos “profissionais de rh” que se esquecem que também são possíveis candidatos em futuros processos seletivos. Deixam os candidatos esperando por horas sem nenhuma satisfação ou razão para isso. Alguns chegam ao absurdo de justificar que é uma forma de avaliar se o candidato está preparado para lidar com a situação de pressão.
Oras, isso não se faz! Quem está desempregado já carrega grande pressão e mais esta é totalmente injustificável.
Há quem realize uma entrevista sem informar detalhes fundamentais sobre a vaga, como o salário, por exemplo. Outros que elaboram perguntas totalmente sem noção, demonstrando total falta de preparo para a atividade. Alguns ainda tratam os candidatos como se estes fossem a escória da humanidade, com arrogância, prepotência e ar de supremacia. Mais uma vez totalmente desnecessário…
Outro ponto crítico é convocar um candidato para um processo seletivo apenas para cumprir a quantidade mínima de pessoas. Criar a expectativa da oportunidade de emprego e fazer o candidato se deslocar desnecessariamente é realmente cruel. Há pessoas que conseguem arcar com esta despesa, porém outras optam entre pagar uma passagem e comer algo.
E quando o processo seletivo parece não ter fim? Já passou pela situação de ser convocado para uma entrevista e quando chegou ficou sabendo que o processo iria durar meio período ou ainda o dia todo? Pois é… isso também acontece e é um grande desrespeito com os candidatos que muitas vezes se prepararam para passar uma ou duas horas apenas. Lembre-se que quem está desempregado também tem vida além de procurar emprego.
Bem, há ainda outros erros dos “profissionais de rh” que também geram indignação nos candidatos: falar mais do que ouvir: não explicar quais serão as funções da vaga e como funciona a empresa; não ler o currículo antes da entrevista: o processo de análise do currículo é fundamental para otimizar o tempo do selecionador e evitar entrevistas desnecessárias; fazer testes e dinâmicas esdrúxulos: uma dinâmica de grupo mal conduzida pode gerar desconforto e até trauma em algumas pessoas. A coisa é muito séria, principalmente pelo momento que o candidato está passando.
Portanto, se você é profissional de rh e realiza processos seletivos lembre-se que hoje você está de um lado da mesa, mas pode a qualquer momento estar do outro lado. Trate os candidatos de forma ética, digna, respeitosa e, principalmente, humana.
A máxima do “gentileza gera gentileza”, aplica-se perfeitamente aqui. Hoje o candidato tem mais acesso à informação e também divulgação. Veja o que é postado frequentemente no LinkedIn…
Para ser um verdadeiro PROFISSIONAL DE RH, antes que conhecer técnicas é preciso ser verdadeiramente HUMANO!
Rogerio Martins é especialista em desenvolvimento de lideranças e comportamento assertivo e atua com palestras e treinamentos há mais de 20 anos.
Tive uma experiência há um tempo para uma empresa especializada em Recrutamento (terceirização do serviço). Na entrevista me colocaram em uma sala por mais de 1 hora e depois me moveram para outra sala, na qual a mesa era bem longa. Os 3 avaliadores se sentaram na ponta, o que não me permitia sentar de frente para todos, por isso tive que afastar minha cadeira da mesa para ficar parcialmente de frente com eles. A entrevista foi um bombardeio de perguntas repetitivas e muito mal elaboradas, tanto que uma delas eu tive que reformular em voz alta para saber se realmente havia entendido o que a pessoa queria saber. Por fim, me perguntaram se eu tinha dúvidas, até aquele momento não tinham me informado nada sobre o que ofereciam para a vaga nem o cargo! Quando perguntei, me disseram que estavam analisando o mercado para definir qual candidato queriam e me chamaram de Júnior, mesmo tendo pelo menos (naquela época) 4 anos de experiência na área. Fiquei muito chateada com a atitude, ainda mais considerando que é um serviço que aquela empresa presta para muitas outras no mercado. Se internamente eles fazem o recrutamento daquela forma, imagina com os candidatos do cliente. É de se ponderar muito.
Bom dia !
Gostei do seu texto muito bom , o senhor realmente relatou o que acontece em um processo seletivo, a falta de preparo de um profissional de RH infelizmente é muito atual, tive uma experiência horrível em uma empresa há muitos anos atrás onde o dono da empresa é quem estava fazendo as entrevistas, ele me fez uma pergunta que me constrangeu muito, apesar dele ter gostado do meu currículo e querer me contratar, eu não fiquei por causa da pergunta que ele fez.
Ótimo artigo e realmente, antes de ser um profissional de RH tem que ser verdadeiramente Humano.
Temos que ter empatia, não sabemos o nosso amanhã. Hoje posso ser o entrevistador e amanhã o candidato.
Será que a postura que tive com os candidatos que entrevistei é a mesma que gostaria de receber quando for entrevistado?
A cada dia mais as pessoas se esquecem de práticar a famosa empatia.
Em minhas experiências de RH realmente o cenário mudou e muito, vejo que apesar do alto índice de desemprego as pessoas ainda colocam seus valores a frente de uma possível vaga. Quantos relatos já vi de candidatos que foram chamados e desistiram da vaga, por conta de como o processo foi conduzido.
Muitos se esquecem que antes de serem “recrutadores” são humanos e o mundo gira, hoje estamos do outro lado da mesa, mais ninguém sabe o dia de amanhã.
A empatia acima de tudo, é o que precisamos.
Isso mesmo, Damaris… temos que lembrar que o jogo da vida é dinâmico e podemos trocar de lugar a qualquer momento. Portanto, é minimamente prudente tratar todos muito bem.