O chefe sem noção

LIDERANÇA | Você já passou pela experiência de trabalhar com um chefe sem noção? Tipo aquele que pede as coisas em cima da hora da reunião mensal de departamento? Ou aquele que mistura o ambiente de trabalho com a vida pessoal, e faz você resolver coisas que só caberiam a ele resolver. Algo como buscar o terno na lavanderia? Pois é, cada vez mais nos deparamos com chefes sem noção. Isso está se transformando em uma praga.

Já escrevi sobre pessoas sem noção em outro artigo – “As pessoas sem noção” – mas tratava de forma mais genérica. Depois continuei a saga com “Mais pessoas sem noção“, onde continuei explorando um assunto que parece não ter fim.

Agora chegou a vez de tratar dos chefes sem noção. Talvez um dos perfis sem noção mais perigosos que podemos encontrar. Imagine uma empresa onde este chefe sem noção trabalha. Como é o ambiente? Como ele é visto por sua equipe? Qual o grau de confiança e respeito que existe? Se você trabalha ou já trabalhou com alguém assim, certamente está lembrando dos momentos difíceis que passou sob o comando de uma pessoa sem preparo adequado para gerenciar uma equipe.

 

As características dos chefes sem noção

Os chefes sem noção podem ter várias características, mas uma delas é a falta de critério para escolher as pessoas adequadas para determinados trabalhos. Seu senso de julgamento é afetado pelas preferências pessoais. Muitas vezes escolhe aqueles que mais gosta para os trabalhos de maior reconhecimento. Por consequência acaba destacando os seus desafetos para as atividades mais laboriosas, ou de menor destaque. Costuma agir tendenciosamente. O resultado desta atitude é a desmotivação da maior parte da equipe, visto que seus “escolhidos” sempre são a minoria, muitas vezes apenas um ou dois funcionários.

 

“Quando trabalhamos em um ambiente em que não há confiança, nós nos sentimos vigiados e não valorizados. Um relacionamento de desconfiança gera maus sentimentos e maus pensamentos, além de dificultar a interação. Quando a relação entre o chefe e os funcionários é baseada em pressões, cobranças excessivas e ameaças, gerando por isso tensão, insegurança e medo, a criatividade fica bloqueada.”

Ken O’Donnell em Valores Humanos no Trabalho.

 

Outra característica marcante dos chefes sem noção, e que afeta diretamente os resultados da organização, está na escolha da equipe. Eu já vivenciei esta situação na minha trajetória profissional. O gestor que contrata pessoas com perfil inapropriado – seja profissionais juniores para desempenhar atividades complexas, ou o contrário – age contra si próprio. Um gestor sem noção tem o hábito de contratar pessoas que ele “gosta“, ou que se assemelham a ele, ou ainda que irão “resolver todo o problema“.

A crença do gestor que ele “só deve comandar a equipe”, e isso não envolve sua participação efetiva, acompanhamento, gestão e cobrança de resultados, é outra característica do chefe sem noção. É como se tudo fosse uma criação mágica e os funcionários personagens de histórias em quadrinhos. A realidade é bem diferente, todos sabemos disso, menos os chefes sem noção.

A triste realidade é que chefes sem noção faz as empresas perderem bons funcionários. Numa época de intensa competitividade isso é inaceitável. É preciso compreender que as pessoas não deixam simplesmente as empresas em busca de outro emprego, mas geralmente deixam maus gestores, péssimos chefes, para buscar um ambiente mais favorável à suas expectativas e competências.

 

“Todas as organizações vivem um fluxo de entrada e saída de funcionários muito parecido com aquelas portas do tipo vaivém. As pessoas entram por essa porta por uma razão: fazer parte dessa empresa. Talvez elas se identifiquem com a visão da organização. Ou então acreditam que a empresa oferece grandes oportunidades. Ou possuem admiração pelo líder. Há tantas razões quanto pessoas que se candidatam a um emprego. Mas quando elas deixam a empresa e saem por aquela porta, há grandes chances de que todas tenham algo em comum: o desejo de buscar ‘pastos mais verdes’ geralmente é motivado pela necessidade de se afastar de alguém.”

John C. Maxwell em O livro de ouro da liderança.

 

Então, como lidar com um chefe sem noção?

Primeiramente é preciso identificar se ele é um chefe sem noção, ou tem alguns momentos de desatenção, ou ainda falta de critério em suas atitudes. É bem diferente, apesar de parecer semelhante. Por isso confunde. A melhor forma de ter certeza é perceber se a situação é contínua e se amplifica em várias ações sem noção. Geralmente este tipo de pessoa é sem noção em outras área da vida.

Identificado o perfil chegou a hora de ação. Não será fácil. Talvez o maior desafio de sua carreira, mas vale a pena. Não há segredo. Mas é preciso muita habilidade, muito jogo de cintura e “estômago forte“.

O próximo passo é identificar as atitudes sem noção do seu chefe. Faça uma lista, mas guarde para você. Ainda não é o momento de discutir com ele nenhuma percepção sua, afinal tudo não passa de sua percepção.

Palestrante Rogerio Martins - construa aliados

Construa aliados

Em posse de sua lista de “mancadas” do chefe, está na hora de buscar aliados. Sim, você precisa ter certeza que sua percepção a respeito de seu gestor não está influenciada por suas mágoas, ressentimentos ou raiva de situações vividas. É preciso uma análise de outra, ou outras pessoas, sobre o que você enxerga como atitudes sem noção de sua chefia.

Com esta análise criteriosa em mãos chegou a hora de agir. Veja que até agora buscamos nos cercar de uma estratégia cuidadosa para que você não acabe se “queimando” em todo este processo. E este cuidado não termina aqui. Não dá para chegar no chefe e dizer tudo o que pensa, mesmo que tenha vontade. É preciso uma nova estratégia.

Uma forma interessante para lidar com a situação agora é pegar um dos itens de sua lista e tratar pontualmente. Escolha aquele que tenha forma mais fácil, rápida e prática de ser resolvido. Com esta estratégia você começa a perceber o grau de abertura de seu chefe. Demonstra seu interesse no desenvolvimento da equipe, da empresa, e seu também. A abordagem é essencial para o sucesso. Chegar com “os dois pés no pescoço” do chefe certamente que não é a melhor estratégia.

Lembre-se que qualquer ser humano não está preparado para ouvir críticas. Para as pessoas sem noção isso é ainda mais complexo, pois elas nem fazem ideia de suas atitudes e quando alguém trata do assunto é como se fosse total novidade. Portanto, muita atenção ao abordar o assunto. Não ataque, mostre seu interesse em melhorar a empresa, o ambiente de trabalho e assim por diante.

Em muitos casos o ideal é contratar o serviço especializado de um coach ou mentor, que irá analisar sua situação e orientar adequadamente como você poderá proceder. Em casos extremos a melhor saída é a saída literalmente do emprego. Isso se aplica se o clima interno for de total falta de credibilidade entre chefia e funcionário.

Concluo reforçando que nada nesta vida é definitivo, a não ser a morte e as mudanças. Você pode mudar seus hábitos, seus pensamentos, suas atitudes, mas nunca poderá mudar efetivamente outra pessoa.

 

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